Apreensão de droga destinada à Cracolândia expõe avanço do oxi


Policial Militar aborda homem na Cracolândia; local é flagrado como ponto de consumo de oxi em SP. Foto: Fotografia/Terra
Policial Militar aborda homem na Cracolândia; local é flagrado como ponto de consumo de oxi
Foto: Fotografia/Terra

A apreensão de cinco mil papelotes de oxi na favela Heliópolis, na segunda-feira, em São Paulo, escancarou o avanço desenfreado da nova droga que assusta o Brasil. O volume encontrado ligou o alerta da Polícia Civil paulista, que apesar de estar investigando a ação dos traficantes, não esperava encontrar uma quantidade tão grande da droga. "Foi a maior apreensão de oxi pronta para o varejo no País", disse o delegado Antonio de Olim, do Departamento de Narcóticos. O destino da substância apreendida seria a Cracolândia, maior centro do tráfico e de consumo no centro da capital. "Droga vagabunda vai para a Cracolândia", pontua Olim.
ANDRESSA TUFOLO
Direto de São Paulo
De acordo com o delegado, boa parte do público dessa região compra oxi achando que é crack. "Quem está melhor da cabeça conhece. O oxi é mais amarelo. É o resto do resto. Muitas vezes o cara está louco, no fundo do poço e não reconhece", explica.
O divisionário de prevenção e educação do Denarc Reinaldo Correa afirma que as apreensões de oxi nas últimas semanas não são as primeiras. "Anteriormente pode ter ocorrido diagnóstico de crack sendo que já se tratava do oxi", diz. O Denarc está desde o ano passado pesquisando a substância. Correa explica que a primeira descoberta da droga no Brasil ocorreu no Acre. "No País, o oxi entrou por fronteira da Bolívia, do Peru", aponta o agente do Denarc.

"Pedra de 2"
A polícia suspeita que a droga tenha entrado em São Paulo no fim do ano passado ou início deste ano. De acordo com Correa, a pedra de crack custa de R$ 7 a R$ 10 na Cracolândia. A pedra de oxi custa R$ 2, tanto que já foi apelidada de "pedra de 2". "Oxi tem menor custo. O barato é igual, mas a pedra dura menos. O mercado consumidor é voraz. Que faz qualquer coisa para levantar dinheiro", diz Correa. O delegado Olim salienta que o consumo na Cracolândia é grande e por isso o público quer droga de baixo custo.
O coordenador-geral da Coordenadoria de Atenção as Drogas (CDR) da Secretaria de Participação e Parceria de São Paulo, Luiz Alberto Chagas de Oliveira, atua com projetos na Cracolândia e afirma que seus 150 agentes de abordagem já possuem relatos de pessoas que consumiram a substância na região. "Trabalho com cerca de 800 pessoas da Cracolândia que estão em tratamento por dependência química. 300 estão internadas. Desse número, aproximadamente a metade é pelo uso de cocaína e seus derivados, principalmente crack e é possível que também por oxi. Mas as reais diferenças de efeitos dessas substâncias no organismo só teremos em 6 meses, um ano, depois da realização de estudos e acompanhamento", ressalta Oliveira.
De acordo com Oliveira, que trabalha há 25 anos com dependência química, os efeitos na vida dos usuários vão desde a aquisição de problemas físicos, neurológicos, cardíacos e pulmonares, até a devastação de relações sociais e familiares. "A chegada a Cracolândia acaba com a pessoa em um mês", disse o coordenador. Segundo o profissional, muitas pessoas também morrem em conflitos e até mesmo divo as trocas de favores sexuais que o ambiente gera. "A disputa entre os usuários é feroz. Vale a lei da selva",
Correa destaca que hoje em dia há oferta de oxi em qualquer ponto de São Paulo. É a lei da oferta e da procura. Se alguém pede e o traficante não tem, ele consegue e diz para o viciado voltar no dia seguinte. Ele ressalta que a polícia não pode ajudar o usuário se ele não quiser. "Não tem agasalho da lei para tirar os usuários de circulação e internar". Segundo ele, o custo do oxi é maior para o Estado. "O fígado é atacado e exige tratamento com medicamentos caros".
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